quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A Infância - Caso de amor

Uma estrada é deserta por dois motivos: por abandono ou por
desprezo. Esta que eu ando nela agora é por abandono. Chega que os
espinheiros a estão abafando pelas margens. Esta estrada melhora muito
de eu ir sozinho nela. Eu ando por aqui desde pequeno. E sinto que ela
bota sentido em mim. Eu acho que ela manja que eu fui para a escola e
estou voltando agora para revê-la. Ela não tem indiferença pelo meu
passado. Eu sinto mesmo que ela me reconhece agora, tantos anos
depois. Eu sinto que ela melhora de eu ir sozinho sobre seu corpo.
De minha parte eu achei ela bem acabadinha. Sobre suas pedras agora
raramente um cavalo passeia. E quando vem um, ela o segura com
carinho. Eu sinto mesmo hoje que a estrada é carente de pessoas e de
bichos. Emas passavam sempre por ela esvoaçantes. Bando de caititus a
atravessavem para ver o rio do outro lado. Eu estou imaginando que a
estrada pensa que eu também sou como ela: uma coisa bem esquecida.
Pode ser. Nem cachorro passa mais por nós. Mas eu ensino para ela
como se deve comportar na solidão. Eu falo: deixe deixe meu amor, tudo
vai acabar. Numa boa: a gente vai desaparecendo igual quando Carlitos
vai desaparecendo no fim de uma estrada... Deixe, deixe, meu amor.

3 comentários:

  1. Sinto a solidão da estrada. Por isso tento acompanha-lá em minhas viagens pelo mundo, para que não fiquemos sós.

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  2. Volto aqui e releio esse comentário depois de anos, agora o mundo todo está isolado num momento de pandemia, #covid19
    O que é a solidão do mundo?
    Permanecendo firme e forte pra viver muita coisa ainda. Manoel, valeu.

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